quinta-feira, 24 de abril de 2008

reportagem retirada do Blog do Raimari sobre a "TV" que tanto ofende ao povo culto de Xapuri







TV Xapuri






"Deixem o homem trabalhar"



A prefeitura de Xapuri faz investimentos e realiza obras para melhorar a qualidade das transmissões da TV Xapuri, canal 7 (repetidora do SBT). Um novo transmissor foi comprado para que as imagens, antes em preto e branco, cheguem em cores nas casas dos telespectadores, segundo os responsáveis pela "emissora".


O apresentador do Jornal Xapuri, Josimar Tavares, diz que com trabalho é que se respondem às críticas recebidas. "Com certeza a gente num samos (sic) pessoas tão profissional (sic), mas a gente tem feito o que pode pra levar as informação (sic) até sua casa", diz ele durante uma transmissão ao vivo do programa.



A repórter Sandra Ferreira mostra, em um dos programas, como funciona o Complexo de Comunicação de Xapuri, os novos equipamentos e as melhorias obtidas recentemente. "Quando nós chegamos aqui só tinha um manitor (sic), hoje como você pode observar nós temos três. Mudou muito o nosso estudo (sic) da TV Xapuri", explica.Sandra Ferreira manda ainda um recado para os críticos: "As pessoas criticam demais e não deixam as pessoas que querem trabalhar, trabalhar. Então vamos deixar o prefeito trabalhar, quem não deixa ele trabalhar que pelo menos não atrapalhe", diz a aspirante a Fátima Bernardes.

◙ O recado da repórter Sandra Ferreira é para mim e a TV Xapuri é a mesma que o prefeito usa para me xingar de canalha, patife e imbecil, entre outros predicativos nada elogiosos. Não se sabe, ao certo, o grau de legalidade do uso do espaço da retransmissora local do SBT, que tem sua programação interrompida diariamente para que o Jornal Xapuri seja levado ao ar. De jornalismo o programa não tem absolutamente nada. Não informa, somente promove o prefeito (se é que com a péssima qualidade de todo o conjunto da emissora - técnico e humano - se possa promover algo ou alguém) e tem como único objetivo, escondido por trás da fachada jornalística, servir de canal para que Vanderley Viana insulte e desmoralize toda a sorte de adversários ou inimigos que julga possuir.
Postado por Raimari Cardoso

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Elenira Mendes Visita Maná

Elenira Mendes Filha do Lider Sindical Chico Mendes, grande martir da luta ecológica na Amazônia, esteve durante a semana passada em visita ao Grupo Maná e envia aos amigos a experiencia da visita:

"Queridos Amigos,

Gostaria de compartilhar todos estes momentos com vocês, estive na Colômbia para uma reunião de trabalho com o grupo Maná e sua fundação Selva Negra. Sábado almoçamos juntos, eu e os integrantes do grupo, foi emocionante como eles valorizam e respeitam a luta de meu Pai.Mas gostaria de passar um pouco da emoção que senti no show de Sábado à noite.
Cheguei ao Show já próximo de Maná entrar no palco, havia uma multidão naquele parque, mas fiquei bem na frente, de repente começaram a me chamar no palco, estava sendo convidada a assistir o show ali em cima do palco em um lugar reservado, vibrei com aquilo, o show começou (muito bom, muito dinâmico) cantaram umas 4 músicas e iniciaram a “Cuando los Angeles Lloran”, eu chorei muito, pois ele fez uma linda homenagem ao meu pai, o show continuou a rolar, aí um dos produtores me convidou a descer do palco, pois Fher ia me chamar a subir, e gostaria de ir me buscar no meio da multidão, terminou uma música e ele disse que ali estava a filha de Chico Mendes e gostaria de cantar umas musicas para mim, me puxou ao palco, me abraçou, levou-me até Sérgio, que me deu um abraço também, e levou-me a um sofá, sentei no meio entre Sergio e Fher, ele começou a cantar. Caramba! foi muito emocionante, cantou três músicas comigo ali sentada no meio do palco e fui levada até em baixo novamente por Fher.Amigos não pensem que esta emoção é só por eu esta assistindo ao show, é principalmente, por sentir o amor que eles tem pela luta de meu pai, sem nem terem conhecido de perto Chico Mendes, o que sabem são relatos de revistas e jornais, somente, mas amam Chico Mendes. É também por ter cumprido parte deste sonho que é fazer um grande tributo a Chico Mendes.Que DEUS nos abençoe sempre, quero agradecer a todos pela força".

Elenira Mendes

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Matéria Publicada no Blog do Raimari, onde o Professor Joscíres esclarece questões relacionadas à sua saída da prefeitura do "Carcará"!!!

Joscires Ângelo esclarece:
O ex-relator da Comissão dos Limites Territoriais dos Municípios do Alto Acre, Joscires Ângelo, encaminhou mensagem ao blog explicando os motivos que o fizeram se ausentar das duas audiências públicas citadas no texto acima, quando deveria apresentar o relatório dos trabalhos desenvolvidos.Segue a mensagem:"Salve... Salve... Prezado amigo Raimari.Reporto-me ao Blog Xapuri Agora sob tão conceituada responsabilidade sua, que durante todo esse tempo desde a sua criação sempre se pautou a criar um ambiente de discussão acerca dos problemas da nossa querida Xapuri e que se transformou num instrumento de comunicação referencial para muitos inclusive para minha pessoa.Mas a minha intenção nesse momento é apenas colocar uma ressalva acerca do meu afastamento da Comissão de Redefinição Territorial dos Municípios do Vale do Acre, tendo em vista que muitas situações ventilaram, não havendo da minha parte nenhuma posição oficial, muito menos dos membros da Comissão pelos quais tenho imenso respeito e admiração. Minha saída se deu unicamente pelo fato de impedimento da instância que representava - Poder Executivo - em fazer parte da Comissão.Em miúdos, a minha pessoa antes de ser o Relator da Comissão, era o assessor direto do Prefeito Municipal e por hierarquia reportava-me a ele, recebendo única e exclusivamente ordem direcionada do Chefe do Executivo Municipal.Acontece que recebi ordem direta de não mais participar dos trabalhos da Comissão, faltando inclusive a duas audiências públicas o que desagradou a alguns integrantes e dificultando o diálogo entre a minha pessoa e alguns dos membros.Todos os visitantes desse blog são sabedores que desde a Primeira quinzena de janeiro eu já tinha exposto a minha vontade de deixar a equipe da atual administração, pelo fato de que estaria altamente sobrecarregado, e exposto a situações que me desagradava como profissional que sou e como pessoa que todos conhecem, sendo que a partir daquela data nenhuma ação administrativa ficara mais sobre minha responsabilidade aguardando apenas a minha substituição, o que ocorrera de forma desconfortável, visto que mesmo diante das circunstâncias saí extremamente ofendido pelo atual Prefeito.Quanto aos entraves mencionados é fato notório que não há participação dos membros representantes de Xapuri, unicamente porque são impedidos pelo Prefeito de participarem, visto que ele não acha importante nenhuma discussão em que ele não seja a palavra única.Não somente a distinta Comissão está sendo prejudicada, como o Condiac como um todo e diversas outras instituições que por um motivo pífio da administração não recebem a colaboração nas discussões de Xapuri".
Joscíres Ângelo

◙ Joscires Ângelo é um professor qualificado que por determinado tempo teve a ilusão de que poderia colocar sua capacidade a serviço da população de Xapuri ao mesmo tempo em que assessorava o prefeito Vanderley Viana. Durante praticamente todo o período que lá esteve foi uma das poucas ilhas de inteligência e bom senso perdidas no oceano de insensatez e ignorância que é a atual administração.
Postado por Raimari Cardoso

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Entrevista "polêmica" Da viúva do Líder Chico Mendes ao Jornalista Altino Machado


Ilzamar Mendes, a viúva do líder sindical e ecologista Chico Mendes, faz uma dura avaliação no momento em que o virtual Comitê Chico Mendes, o PT e o "governo da floresta" do Acre começam a "comemorar" os 20 anos do assassinato do seringueiro de Xapuri. "Essas pessoas mataram os ideais do Chico", afirma a presidente da Fundação Chico Mendes.


Eis a entrevista:


Chico Mendes vive?

Eu acredito que quando é pra usar a imagem do Chico, ele vive. Os ideais verdadeiros do Chico ainda existem nos corações e nas mentes das pessoas, dos seus verdadeiros companheiros, mas, infelizmente, hoje eles não têm voz nem vez na política estadual ou federal.


Por que acontece isso?

Infelizmente as pessoas que estão no poder mudaram muito seus pensamentos, seus ideais. Na verdade, o pensamento, a posição, os ideais do Chico, eram outros que, como acabei de falar, infelizmente são esquecidos.


Qual o ideal do Chico Mendes que morreu?

Chico lutava pela vida, pela preservação da Amazônia. Infelizmente tenho que dizer que o que se vê é a destruição da nossa Amazônia. As nossas madeiras, as nossas florestas, estão sendo destruídas. Eu dou como exemplo o seringal Cachoeira, entendeu? Foi o berço, onde o Chico começou a ser perseguido mesmo, onde começou a sua luta em defesa e hoje se você for lá vai constatar que o seringal Cachoeira está completamente destruído. Transformou-se em fazenda. Para sobreviver, os colonos são obrigados a vender as madeiras, as suas terras porque não existe uma política para ajudar os colonos, ribeirinhos.


A ministra Marina Silva, o ex-governador Jorge Viana e o atual governador Binho Marques. A conquista do poder não significou avanços?

Tenho que falar, e não estou falando só por mim, mas dos companheiros do Chico com os quais ainda tenho contato. Infelizmente, essas pessoas, que conviveram lado a lado com o Chico, que eram sabedoras dos seus ideais, da sua luta, infelizmente mudaram seus pensamentos. Hoje, o que é importante para essas pessoas é o poder e não os ideais do Chico. Fazem qualquer coisa para se manter no poder. Companheiros que realmente estavam lado a lado com o Chico não têm voz para dizer para estas pessoas o que eles necessitam. Hoje o que se vê são pessoas dentro de seus gabinetes, no ar-condicionado, fazendo o que bem entendem, mas não vão ouvir o que a população carente necessita.


Como seria tratado alguém que surgisse hoje com as mesmas atitudes do Chico Mendes?

Eu teria até pena. Fariam qualquer coisa para eliminar essa pessoa. Mas elas existem. Se não são ouvidas, se não têm voz, é porque as pessoas que estão no poder não dão voz a essas pessoas. Mas ainda existem pessoas que querem dar continuidade aos ideais do Chico e que não têm voz e não são ouvidas.


Estamos completando 20 anos do assassinato do Chico Mendes. Fala-se muito em comemoração...

Eu daria até um recado a essas pessoas: que não são 20 anos de comemoração, mas de avaliação dos 20 anos, porque os verdadeiros ideais do Chico estão esquecidos, não existem mais. Que este seja um ano de avaliação e que estas pessoas que estão no poder hoje se lembrem verdadeiramente, com humildade, dos ideais do Chico, que não era o de fazer qualquer coisa para se manter no poder, mas sim defender a vida dos mais humildes, levar escola, educação, alimentação e ser igual a todo mundo, sem poder para meia dúzia de pessoas, esquecendo dos que realmente defendem a Amazônia, que realmente precisam sobreviver porque são elas que realmente sabem como tratar a floresta. Que estes 20 anos sirvam para que as pessoas possam avaliar isso. Para mim, que fui companheira do Chico, é, ainda, um ano de muita tristeza porque infelizmente os ideais do Chico foram esquecidos.


Você acha que é possível mudar ou existe uma tendência de esquecimento mesmo?

Eu, após 20 anos da morte do Chico, não tenho mais esperança. É uma tendência de esquecimento mesmo. O Chico vai ser lembrado sempre em comemoração, para que as pessoas possam aparecer, mas quanto aos ideais dele não tenho mais nenhuma esperança.


O governo do Acre e o Comitê Chico Mendes estão planejando uma série de eventos em memória desses 20 anos. Você tem participado disso, tem sido consultada?

Eu quero deixar bem claro aqui: no governo do Jorge Viana eu ainda era convidada a participar de alguma coisa, mas no governo do Binho Marques eu fui eliminada, assim como outros companheiros. Não sou convidada a participar de nada. Para você ter uma idéia: participei do Prêmio Chico Mendes porque a Elenira, que faz parte do Instituto Chico Mendes, chegou para mim e falou: "Mãe, você não foi convidada, mas você tem que participar". E eu entrei de bicão porque não me convidaram. Fui e participei, mas não fui convidada. Infelizmente eu ou os companheiros do Chico, que conviveram com ele lado a lado, nós não somos convidados para discutir qualquer situação.


Como você, presidente da Fundação Chico Mendes, lida com a imagem do Chico Mendes?

A imagem do Chico é muito importante, mas vou ser sincera: eu preservo mais os ideais dele. Isso é o que é mais importante. O Chico deu a vida dele por uma causa justa, em defesa da vida, da Amazônia. Acho que é essa a nossa luta e s pessoas que estão no poder têm que começar a ouvir a gente. Eu fico muito triste quando vejo pessoas que hoje estão no poder, que conviveram lado a lado com o Chico, inclusive comigo muitas vezes fazendo almoço, janta, dando apoio a essas pessoas. Tenho que ressaltar aqui: pessoas que colocavam mochilinhas nas costas, que não tinham como pagar uma refeição e que tinham o apoio meu e do Chico para dormir ou fazer uma refeição. Hoje esquecem disso e fazem qualquer coisa para ficar no poder. Procuram eliminar de qualquer forma tanto eu como os companheiros dele, porque a nossa posição é essa. Hoje, a política do Acre está voltada para a pecuária. Quem não lembra do fazendeiro Darli, que queria destruir o seringal Cachoeira, que o Chico organizou os seringueiros para impedir que fosse transformado em pasto para criar boi? Na minha opinião a política no Acre está mais voltada para a pecuária do que em defesa da vida, dos seringueiros, da Amazônia.


A pecuária é a atividade prioritária no governo da floresta?

Infelizmente essa é a minha opinião. E se você for conversar com outros companheiros do Chico, vai encontrar a mesma opinião. Acho que a política do Estado está voltada pra pecuária. E o que é a pecuária? É a destruição - criar pasto e criar boi. Se você voltar 20 anos atrás, você vai ver qual era a verdadeira luta do Chico.


O que você considera um erro do Chico Mendes?

Ter confiado em algumas pessoas. O Chico confiou em algumas pessoas e infelizmente ele morreu. Pessoas que o traíram e que na época já tinham a intenção de trair.


E como o PT se comporta em relação a isso?

Eu vou falar do Chico político. O Chico, se fosse vivo, não estaria no PT. Dias antes do assassinato, fui comunicada de que ele estaria pedindo a desfiliação do PT e iria se filiar no PV. Ele não estaria no PT hoje.


Você sente por parte das lideranças do PT que atuam dentro do governo do Acre cerceamento do movimento social em defesa da floresta?

Existe um grupo de pessoas que tentam controlar, que eliminam de qualquer jeito as pessoas que têm posições contrárias. Fazem isso para se manter no poder.Nesta semana a imagem de Chico Mendes passou a figurar no topo da primeira página do Diário Oficial do Acre. Além disso, todos os impressos do governo estadual reproduzirão a mesma imagem.


Isso contribui para firmar os ideais dele?

Não. É mais uma imagem sendo usada em vão. Os ideais do Chico realmente não são postos em prática. É a imagem sendo usada. Por quê? Porque a imagem do Chico vai dar poder a alguém. Os ideais dele morreram para essas pessoas. Não morreu para mim nem para os companheiros do Chico, mas para essas pessoas morreu.


Ou como você me disse ontem...

Essas pessoas mataram os ideais do Chico.


Como você vê o desempenho de sua filha, a Elenira...

Vou dizer isso a você em primeira mão: orgulho-me da Elenira porque vejo hoje o que o Chico pediu para mim há 20 anos atrás: que a Elenira desse continuidade à luta que o pai dela não iria conseguir vencer. O que vejo na minha filha é isso. Tenho certeza de que minha filha, em nome de Jesus, vai ter força, vai vencer e dar continuidade aos ideais do pai dela. E eu vejo nela a pessoa que vai ter condições de resgatar esses ideais que para muitas pessoas morreram.


É pelo fato de falar mesmo quando decide falar que você parece causar tanto mal-estar em antigos companheiros do Chico?

Essas pessoas podem querer achar que são os donos da imagem, que são os donos do Chico, mas eu tenho uma coisa que essas pessoas não têm: eu fui companheira, fui a esposa, e sou a mãe dos filhos dele. E foi no meu colo que o Chico deu o último suspiro. Então eu sei, porque era comigo, apesar de quem está no poder hoje não reconhecer e não aceitar isso... Eles conhecem o Chico líder, político, mas o Chico político e homem quem conhece sou eu.


Alias, ouvi do jornalista Elson Martins que você deveria ser respeitada pelo menos por ter sido a mulher que o Chico amou.

Exatamente.


Você acha que o Acre vê na figura do Chico Mendes o mito que ele é no plano internacional? Ou ele continua sendo alvo de preconceito e intolerância?

Existem grupos onde ele continua sendo alvo de preconceito, mas algo que nos deixa felizes é que todo ano, em época de vestibular procuram à gente porque a vida e a luta do Chico estão sempre presentes, está sempre formando os ideais dele em pessoas que depois possam dar continuidade. Para muitos a imagem do Chico é importante para o mundo, para o Brasil, em defesa da Amazônia, da vida.


Os governos petistas tentam nos fazer acreditar que os fazendeiros se alinharam ao discurso de defesa da Amazônia, da sustentabilidade. Você acredita nisso?

Eu não acredito. Sabe por que as pessoas sempre falam isso? É porque na época de eleição são os fazendeiros e madeireiros que financiam as candidaturas. Mas essas pessoas não são o progresso. Elas não são defensoras da vida. Essas pessoas são a destruição. Na verdade os seringueiros, as pessoas mais humildes, elas só são lembradas na época do voto. Elas não têm condições financeiras para financiar nada.


Quero agradecer pela entrevista, sobretudo após você ter recusado uma para o documentário que a TV árabe All Jazeera prepara sobre a história de Chico Mendes. Por que você recusou?

Eu não acredito em muitas pessoas. Eu preciso estar segura das pessoas sérias, das pessoas que vão realmente divulgar o meu pensamento, do que eu acho. É muito difícil eu dar entrevista. A Veja me liga oferecendo espaço e eu tenho sempre me mantido calada. Mas chega uma hora que a gente tem que falar, tem que falar, é preciso. Eu acredito muito num outro plano e o Chico está lá. Uma hora nós vamos nos encontrar e uma hora eu vou ter que chegar para ele não se envergonhar de mim e dizer que eu fiquei aqui e defendi. Hoje eu penso dessa forma.

Mais informações e cobertura completa no blog: www.altino.blogspot.com

"Achei que era mera pichação de vândalos"


Quando cheguei à Xapuri, vi aquela construção em ruínas com os inscritos Arte na Ruína na frente. Achei que era mera pichação de vândalos com o objetivo de degradar a arquitetura da cidade. Engano meu. Não ao todo. Talvez sejam vândalos mesmo, mas vândalos da arte. Pessoas que saem do lugar-comum de museus, praças e teatros e resolvem invadir um espaço tão improvável para fazer e mostrar cultura à comunidade. Entrei naquela antiga delegacia com a expectativa de encontrar apenas um grupo de pessoas, em um só lugar, com uma só história. Tal qual não foi a surpresa ao ver que em cada ambiente haviam pessoas diferentes com histórias diferentes, talvez apresentando em comum um mesmo ideal: fazer arte. Fiquei feliz em ver tantos jovens de Xapuri unidos através de algo tão importante e tão construtivo para toda sociedade. Ainda mais fazendo parte do Coletivo Catraia em Rio Branco, que busca essa mesma integração e difusão de cultura. Espero, sinceramente, que esse projeto siga em frente, pois educa, motiva e cativa cada uma daquelas oito pessoas que entram ali por vez. Uma verdadeira obra de arte, iluminada por velas, sob um teto coberto de estrelas.
Parabéns e um grande abraço!
Jeronymo Artur
Estagiário/Assessoria de Imprensa FEM Gestor do Núcleo de Comunicação do Coletivo Catraia















Não seria estranho que este ator,Se não vivesse uma ficção, um sonho de paixão,Pudesse obrigar sua alma a servir-lhe apenas à vaidade?Que essa atuação fizesse empalidecer seu rosto,Surgirem lágrimas em seus olhos, dar-lhe aspecto perturbador,Entrecortasse sua voz, e todo o exterior se adequasseÀ sua fantasia? E tudo isso por nada?
Shakespeare, HAMLET
Fotos Val Fernandes

"O ensaio surreal do grito sufocado"


No fim desse corredor, há vários pés de açaí. Deles, neste momento, só precisaremos de energia e da beleza que estampa os escombros da ruína logo ao fim.
Maravilha, só mais um instante e logo o Amarildo anunciará o início do espetáculo e, só então embarcaremos com Clenes Alves numa viagem historicamente dilacerada pelo antagonismo do sonho da juventude - o movimento sob passos e toques revelará um mundo de possiblidades para novo.
Também pegaremos uma carona com a fotógrafa Val Fernandes que registrou todo o espetáculo através da sua câmera mágica - o ponto focado pela val, contradiz o ímpeto da formalidade e resgata o límpido do inusitado.

O Direito de Sonhar



Aventura-se no novo rumo, ousando sempre e cada vez mais apreender o poético no instante mesmo da eclosão da imagem. A imagem é captada tão-somente nela própria, no que tem de absolutamente irredutível a qualquer outra instância. O que importa é seu aparecer instantâneo, imagem enquanto imagem, imagem não mais que imagem, cintilação de linguagem. Acolhê-la assim é acolhê-la numa atmosfera de felicidade, como palavra feliz que ilumina o solitário instante da criação e da doação do poético. Pois,
“... a imagem poética existe sob o signo de um ser novo.
Esse ser novo é o homem feliz."
Bachelard/ livro - O direito de Sonhar

Galera - MINC, FEM, IPHAN, ICM, Museu Xapury, Grupo Poronga, Rabo de Saia e os jovens do Arte na Ruína




Por aqui, contaremos um pouco do que aconteceu neste encontro de três dias.TEXTOS - DEPOIMENTOS - FOTOS
Tudo nas próximas postagens.

sexta-feira, 28 de março de 2008


"Atenção, jovem do futuro:
Seis de setembro de 2120, aniversário ou centenário da Revolução Socialista Mundial, que unificou todos os povos do planeta num só ideal e num só pensamento de unidade socialista, e que pôs fim a todos os inimigos da nova sociedade.
Aqui fica somente a lembrança de um tristre passado de dor, sofrimento e morte.Desculpem, eu estava sonhando quando escrevi esses acontecimentos que eu mesmo não verei.Mas tenho o prazer de ter sonhado.
Chico Mendes"

Carta de Chico Mendes revela lutas e perseguições na década de 80


Xapuri 18 de outubro de 1987
Prezados companheiros e companheiras Estamos chegando ao final de 1987. Um ano de muita luta de grandes sucessos, mas também um ano de muitas perseguições e calúnias.Todos nós, mais uma vez somos convidados a nos mantermos unidos, cada vez mais na fé, na coragem e na confiança e esperança de vencer. Precisamos mais do que nunca estar unidos, pois desta união depende o nosso futuro, o futuro de nossos filhos. As forças inimigas estão se organizando para nos combaterem. Estas forças são os fazendeiros, e o prefeito de nossa cidade, juntamente os políticos que o apóiam.E nós vamos ficar de braços cruzados?..A igreja também está sendo atacada e nós vamos ficar calados?... Companheiros, assim não dá. Vamos à luta. Neste sentido, convidamos todos os delegados sindicais desta área e todos seus auxiliares para um grande treinamento de lideranças sindicais, a se realizar nos dias 27, 28 e 29 de dezembro. Não faltem, por favor. E dia 30 a 31 de dezembro, grande assembléia geral do sindicato. Aí é hora de todo mundo comparecer, homens e mulheres, pois a luta é de todos nós. Precisamos nesta assembléia aprovar nossos planos de luta para 1988, pois neste ano, pela primeira vez vamos enfrentar as forças da maldita UDR.Espero contar com a colaboração da todos vocês.
Saudações sindicais do companheiro
Chico Mendes

Artigo publicado no blog Xapuri News recentemente pelo meu amigo Joscíres Angelo




Terça-feira, 25 de Março de 2008

Na Roda a discussão é Cultura
Pouquíssimas vezes pude estar presente em Xapuri num grupo tão seleto de jovens e representantes de Instituições ligadas à Cultura e às diversas manifestações artísticas que realmente estivessem interessados em produzir cultura popular como meio de transformação social e de absorção de valores da realidade local.Iniciou hoje através da Iniciativa do Instituto Chico Mendes por sua Presidente a Jovem Elenira Mendes um Encontro de Planejamento para Ações de intervenção na área cultural de Xapuri, contando com a participação de representantes do Ministério da Cultura, Fundação Elias Mansour, Instituto do Patrimônio Histórico Nacional, Museu Xapury, Grupos Locais ligados a produção Cultural, onde destacamos: o Poronga e o Arte na Ruína e Coordenação da Quadrilha Rabo de Saia, entre outros agentes promotores da cultura local. O encontro em destaque está acontecendo na Pousada Villa Verde, onde hoje durante todo o dia estiveram destacando as principais dificuldades encontradas, bem como as iniciativas existentes que mesmo sem o apoio devido do Poder Publico Local, encontramos ações na área cultural que demonstram facilmente o carinho e força de vontade que cada um mantém acessa.Elenira Mendes na abertura do Encontro ressaltou da importância do Instituto Chico Mendes em estar fomentando tais atividades tendo em vista que a Instituição fora pensada numa perspectiva jovem, alicerçado nos conceitos do movimento ecológico idealizado pelo Grande Mártir Chico Mendes, numa exposição clara e precisa descreveu sucintamente a natureza da Instituição, sua visão e objetivos .Na oportunidade também fora exposto no âmbito de produção cultural pelos Jovens Clenis Alves e Diego Ferraz a fase declinante que tem observado em Xapuri principalmente no tocante ao fomento dos órgãos públicos que praticamente inexiste a muito tempo, nessa ampla apresentação da realidade o Jovem Artista Plástico Wagner San expôs a experiência do Grupo Arte na Ruína que é na verdade uma provocação no sentido de sensibilizar toda a sociedade xapuriense a buscar alternativas viáveis voltadas a Produção cultural, provocação esta que se constitui em um grande marco de mostrar o novo, que pode inclusive marcar historicamente uma passagem de conceito de produção artística num ambiente que hoje a nível municipal, permeia a falta de incentivos.Interessante que no transcorrer do encontro percebia-se a interação de todos e a motivação nas discussões que de fato interessava aos presentes.A representante do Ministério da Cultura a senhora Keilah Diniz ressaltou da importância de focalizar esforços em produzir alternativas que realmente estejam voltadas à cultura local, dando sua importante contribuição no levantamento de situações problemas encontradas a nível de município, demonstrando bastante interesse e engajamento com a área cultural, enfrentando com bons sorrisos uma caminhada pelos principais pontos do centro de Xapuri que Promovem a Cultura numa visita que iniciou na Fundação Chico Mendes, Casa de Leitura, Centro de Memória Chico Mendes, Ruínas da antiga Delegacia de Policia local onde acontece as apresentações do Grupo Arte na Ruína, Centro de Lazer para a Juventude Caleb do Nascimento Mota, Museu dos Xapurys e Casa Branca, tendo ainda energia juntamente com o grupo de jovens a encerrar as 18:00h o primeiro dia de encontro, sendo que ainda ocorrerá nesta quarta e quinta-feira a conclusão do Planejamento idealizado, o que de certo é uma boa pedida a todos, que possam estar contribuindo para com este gesto de transformação cultural.Realmente hoje tive o previlégio de ter literalmente um dia cultural, já que a cultura esteve na roda.Joscíres Ângelo.

quinta-feira, 27 de março de 2008

Pra não dizer que não falei da juventude...

Pesquisando na internet, encontrei esse texto, e resolvi postar, pois achei tal poesia de um nível idêntico aos desejos e anseios que eu, e os demais integrantes do grupo Arte na Ruína... Sonhamos... Com um mundo mais justo, sem sensura à arte, e com mais espaços para manifestações artisticas e culturais. Infelismente, é difícil trabalhar com arte e cultura em Xapuri, mas, com união, esforço e acima de tudo sonhos, estamos conseguindo mostrar nossa arte através de sonhos que começam à se tornar realidade.
Fica aqui postado o meu orgulho de fazer parte do "movimento" Arte na Ruína, e afirmar que é possível realizar sonhos, desde que nunca deixe de sonhar...

Diego Ferraz

Pra não dizer que não falei de Juventude

Onde foram os jovens que enfrentam canhões?
Onde foi a música que arrastou multidões?
Onde foi o sonho de o mundo mudar?
Será que todos eles pararam de sonhar?

Tinham tantos sonhos, muito brilho no olhar
Não tinham medo de a vida entregar
Em todas as partes estavam aos milhões
Era nas escolas, campos, construções...

Quem roubou o sonho e a esperança?
Quem matou a verdade de nossas crianças?
Quem usou da mídia pra enganar?
Quem te contou que os jovens pararam de lutar?

Onde foram os jovens que pintaram a cara?
Onde estão aqueles que provaram o pau de arara?
Onde foi aquele grito forte de tanta dor?
Não podemos parar, gritem por favor!

Falta muita luta, muita busca, muita dor
Ainda não estamos vivendo...
Ainda não estamos vivendo...
Ainda não estamos vivendo...
Na civilização do amor...


de Juliano André Romitti Fleck
Ijuí - RS

Sala Eternamente Dallyanna

Câmara do espetáculo "Arte na Ruína" em homenagem à atriz xapuriense Dallyanna Lima, que sonhava em vida com o reconhecimento do artista e amava atuar... Atriz, mulher, mãe,palhaça, Dallyanna tinha muitos sonhos, e o projeto "Arte na Ruína" vem como um movimento artístico, no qual se estivesse aqui, ela estaría, com certeza participando e mostrando sua arte de maneira simples, bonita, em fim, ela mesma! Creio que qualquer homenagem feita, é pouca, pois Dallyanna era acima de tudo, querida por todos aqueles que a conhecíam... Saudades Eternas de seus amigos, em especial, Clenes Alves, ao qual mantinha uma relação de verdadeiros espíritos irmãos, a quem eu, Diego Ferraz, considero como um grande amigo...

O que dizer do imensurável

Por Joscíres Ângelo

Olhando as postagens do Arte na Ruína muito me alegra pela grandiosa vontade deste grupo em trazer aos nobres xapurienses a graça e a magnitude da arte pelo seu ângulo mais perceptível o da realidade. Ao passo que decaio numa grande tristeza em perceber que a política cultural de Xapuri se esfalece na tolice congênita dos agentes públicos responsável pela manutenção do gênero artístico neste município.
É válido ressaltar que nesta cidade grandes movimentos culturais nasceram e sobreviveram ao longo de algum tempo unicamente pela iniciativa popular que sempre estiveram à frente das iniciativas e digamos com apoio quase inexistente do poder público. Cito nesse ínterim a criação do Grêmio Cultural Madre Petronilia Trinca em 1953 pelos jovens do então Instituto Educacional Divina Providência, que marca a entrada dos jovens xapurienses nas diversas expressões artísticas entre elas o curso normal de piano para moças que era realizado na própria escola bem como eventos esportivos e teatrais sempre a cargo dos Frades Servos de Maria que aqui residiam.
A partir deste marco inicial, muitas iniciativas na área da musica, teatro e pasmem até mesmo na literatura foram amplamente difundidas entre a juventude pacata e ordeira de Xapuri nas décadas de 60, 70 e 80, sempre sem o apoio do Poder Publico. Essas décadas são marcadas pela chegada dos migrantes sulistas que contribuíram decisivamente para miscigenação de uma estrutura cultural, fortemente alicerçada na realidade local.
Se formos considerarmos as expressões artísticas neste rincão amazônico, devemos primeiramente agradecer sempre a atitude dos jovens xapurienses, que sempre estiveram a frente dessas transformações, às vezes tidos como rebeldes, indisciplinados. Não, plenamente, incompreendidos sim, rebeldes jamais, dispostos a mudanças sim... Indisciplinados não... Diferentes do padrão adotado por isso difíceis de serem interpretados.
É nesse contexto que se apresenta a proposta dos Jovens integrantes do Arte na Ruína, verdadeiros navegadores que lançam seus horizontes num objetivo claro e preciso o de sensibilizar a população e os agentes públicos, para com o grave descaso que a cultura vem sofrendo nos últimos anos em Xapuri. O que dizer então de tão nobre intenção??? Exaltar a iniciativa e ver que há necessidade de fortalecermos tal movimento para que não seja o apelo unicamente de um grupo, mas de uma sociedade toda...
Conheço todos os integrantes do Arte na Ruína e vejo com bons olhos tal movimento iniciado com muita garra dedicação e acima de tudo qualidade nas suas apresentações e alegro em saber que tenho certeza de que este pequeno fragmento do novo alvorecer das expressões artísticas em Xapuri se constituirá numa nova realidade vindoura...

Parabéns aos integrantes do “Arte na Ruína” pela iniciativa.

Pracinha "do Grupo"

Encontrei esta imagem antiga de Xapuri, com uma praça (que não existe mais) e resolvi postar para aqueles que sentem saudades de Xapuri como a princesinha do Acre, nos tempos em que tínhamos os nossos patrimônios históricos preservados! Também para que as novas gerações vejam o quanto era bonita e aconchegante a antiga praça que hoje ocupa um "Centro de cultura e lazer". Sou à favor do progresso, desde que ele não ofenda à memória e identidade do município.

"Arte na Ruína"


Xapuri a princesinha do Acre, conhecida internacionalmente por ser o palco de grandes acontecimentos como por exemplo; O surgimento do líder seringueiro/Chico Mendes, símbolo do ecologismo na história deste país. Entretanto a realidade dessa pequena cidade revela o engessamento contínuo das suas relapsas administrações. Em especial o cenário sociocultural de Xapuri como a maioria das pequenas cidades interioranas do país, também enfrenta a falta de apoio em projetos que incentive e que invista no seu desenvolvimento. O descaso do poder público e a desmobilização da sociedade inebriam a implementação de políticas públicas, que por vez impede o direito da autonomia, da liberdade na criação e no acesso ás fontes de cultura.
Por vez, surgem os jovens - atores que historicamente denuncia através da arte à agressão imposta pelo sistema vigente que fragmenta e viola seus direitos em construir um ambiente alternativo. No entanto, num âmbito mundial, os inúmeros movimentos de transformação social que as ultimas décadas viram surgir, tiveram, como seus principais articuladores os jovens. Esses movimentos geraram exemplos que perpassadas, alimentam e revigoram as vísceras desses jovens artistas xapurienses que por sua vez se estimulam a movimentar-se e agir localmente numa marcha que os guiam para uma intervenção que só os homens audazes ousariam buscar.
Surge assim - “Arte na Ruína” à antiga delegacia de Xapuri, que fora desativada. Após seis anos ao relento, o ambiente revelara a desconstrução causada pela erosão que denuncia; O caos políticos, a sujeira, os destroços e os rabiscos históricos de quem ali fora encarcerado. Os tão tumultuados desencontros da juventude de Xapuri em obter um espaço que abrigasse as suas criações, dão lugar agora ao encontro entre os Jovens e “Arte na Ruína” denominada assim à antiga delegacia.
A juventude de Xapuri se utiliza das expressões artísticas para dar forma a uma nova linguagem de intervenção no seu espaço social. Através do teatro, dança música, artes plásticas, poesia e outras expressões, eles conseguiram reviver o que parecia distante; A mobilização da sociedade. Com um cenário alternativo e um novo tipo de critica social, esses jovens estão possibilitando uma nova realidade sociocultural que ate então nunca se vira ou ouvira.
A juventude encontrou no Instituto Chico Mendes o parceiro ideal para estruturar e otimizar o espaço “Arte na Ruína”. Essa aliança obteve como resultado no ano de 2007, através do espetáculo intitulado “O ensaio surreal do grito sufocado” mais de 10 apresentações; com espetáculo registrado em documentário, textos e outros. O espetáculo recebeu assim um público estimado em mais de 1050 pessoas; Crianças, jovens e adultos.

Impressões de uma viagem amazônica


Por Michele Sato

A menos de 50 metros da casa de Chico Mendes, a delegacia de polícia fora abandonada, já que a justiça parece ser um artigo de luxo neste país chamado Brasil. Somente a coragem e o engenho de jovens rebeldes recriariam aquele lugar, transformando ruínas em potencial de sonhos. Clênio e Wagner San tiveram trabalho em convencer o grupo de jovens de que aquele local abandonado seria um palco ideal à arte de Xapuri, mas o trabalho maior viria depois, na hora da limpeza e na arrumação do local abandonado, que entre entulhos e vestígios de impunidade, ainda oferecia desajustes físicos em pedaços.

Tudo arrumado, afinal, Amarildo anunciava poeticamente o espetáculo da floresta no alto do telhado da delegacia, com os letreiros (não luminosos) atraindo o público: "arte na ruína". Sua voz ecoava facilitada pela ausência de tetos e telhados, e Cildo cuspia seu desprezo à injustiça em fogo malabarista num circo que mostrava o sol em plena noite. A recepção especial veio pela poética de Clenes, que me convidava à entrada de sua viagem de fantasias.

A primeira sala emanava fitas, panos e tecidos coloridos confundidos nos corpos camaleônicos de 3 dançarinos. Disfarçados de corpos humanos, Cley, Cleo e Gino eram as brisas que se movimentavam ao sabor de notas musicais, ultrapassando barreiras físicas e tornando as paredes apenas uma ilusão, pois suas danças flutuavam no orbe de encantos. E o corpo se prosseguia em outra sala, desta vez numa prisão de grades que escondia Rômulo, mas que barreira nenhuma o privava de sua liberdade. Desenhos, gravuras e quimeras brincavam com as esculturas do San, num contraste da dor e da alegria da performance.

Xapuri mostrava sua cara na voz de Alarice, como se Cazuza encarnasse a fome pela vida na mágica sinfonia destes jovens talentosos. João Paulo, Jarede e Rafael também embalavam o rock and roll dilacerante, como se a sonoridade inquieta pudesse libertar as almas vagantes ao mundo da paz. A tênue linha que segregava solidão e conflitos enroscava na pipa que voava pelos ares no show coletivo daquela arte sensível. E a representação teatral veio por Clemilsa e seu filho Diogo, Leleide, Getúlio, Aíton e pelo próprio Clenes. A poesia declamada deitava-se no chão, e ali as estrelas iluminavam aquele palco construído numa delegacia destroçada.

Queria ter chorado em silêncio, apreendendo cada momento como se fosse o último, na sensação vazia de que jamais presenciaria tamanho espetáculo. Mas naquele momento, compreendi que meu silêncio poderia ter interpretação contrária e balbuciei algumas frases, talvez sem nenhuma conexão sensata, mas as únicas possíveis naquele momento. A grandeza do instante veio em forma deste texto num quarto de hotel, quando a memória recusava a esquecer a coragem imaginativa de jovens arguciosos que me mostravam suas feridas, em uma das feridas arquitetônicas da história de Chico Mendes. Imanentes em suas dores romperam grades, quebraram janelas, voaram céus e transcenderam suas angústias. Se o sonho é algo possível, ele estava ali, excitadamente apresentado naquele instante que vencia cansaços, ruínas e tempos e se consagrava na alegria mais expressiva da raça humana: a arte!